Mesma auditoria ignorou rombo de Americanas, Petrobras e Evergrande

Mesma auditoria ignorou rombo de Americanas, Petrobras e Evergrande

Concentração em poucas auditorias, entretanto, é um problema para o mercado financeiro

Por Marcos de Vasconcellos

Fraudes e desvios da Petrobras, descobertos na operação ‘lava jato’; a situação insustentável da Evergrande, que colapsou o mercado imobiliário chinês; e o “erro” de R$ 20 bilhões nas contas das Americanas. Os três passaram pelo “pente fino” da mesma empresa de auditoria: PricewaterhouseCoopers, ou PwC. E tiveram suas contas aprovadas.

Ela é uma das chamadas “Big Four”, ou seja, as quatro maiores auditorias do mundo, que são responsáveis por analisar as contas de quase todas as empresas que têm ação em Bolsa. E especialistas afirmam que elas podem ser responsabilizada por prejuízos causados a investidores, se ignoraram problemas nas contas (Veja abaixo).

Ser auditado por uma das “Big Four” gera aceitação no mercado, já que demonstra conformidade com as outras empresas que lá estão.

A concentração em poucas auditorias, entretanto, é um problema para o mercado financeiro. A cada evento desses, cria-se desconfiança nas contas de todas as outras empresas que foram também auditadas pela empresa em questão. Muitas vezes, seus próprios concorrentes.

Onda de desconfiança

A onda de desconfiança gerada na noite desta quarta-feira em relação a um rombo contábil nas Americanas levou a Bolsa a suspender a negociação de suas ações (AMER3) na manhã desta quarta-feira (12).No leilão de abertura do mercado, as negociações mostravam uma queda de 75% no preço dos papéis.

As ações de suas concorrentes, Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) também entraram em leilão, por terem quedas muito expressivas já na abertura do mercado. Às 11h25, depois que voltaram a ser negociadas, as ações da Magalu registravam queda de 8,58%, enquanto as da dona das Casas Bahia caíram 9,52%.

O mercado reage à inconsistência contábil avaliada em R$ 20 bilhões, referente a financiamentos para pagamento de fornecedores, que levou à renúncia de Sergio Rial ao cargo de CEO e de André Covre à posição de CFO e Diretor de Relações com Investidores. Os executivos estavam há 9 dias no cargo.

O ex-CEO do Santander Brasil e agora também ex-CEO das Americanas, Sergio Rial, garantiu que os R$ 20 bilhões apontados por ele como erro na contabilidade da rede de lojas e e-commerce estão no balanço, mas no lugar errado.

Em conversa com investidores, promovida pelo BTG Pactual, na manhã desta terça-feira, Rial atuou praticamente o tempo todo para acalmar o mercado.

Ele fez questão de ressaltar, por diversas vezes, que passou apenas 9 dias à frente da gestão da empresa e que, foi nesse período que notou as falhas na contabilidade.

Em resumo simplificado, haveria, há anos, uma confusão entre o que é dívida bancária e o que é financiamento a fornecedores da companhia, o que muda muito o perfil de risco da empresa. Ele evitou classificar como “fraude”.

Auditoria “sem ressalvas”

Os números das Americanas dos últimos anos, entretanto, foram aprovados sem ressalvas pela autoria independente da PwC.

“Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Americanas S.A. e da Americanas S.A.”, diz documento publicado em 2022, referente às contas de 2021.

Analistas da XP Investimentos destacam que a companhia corre o riscos de sofrer processos judiciais nos EUA, já que tem ADRs negociadas no país, como observado em casos semelhantes onde os acionistas minoritários foram prejudicados por decisões dos executivos, como JBS e IRB.

Ao Monitor do Mercado, o presidente da Abradin (Associação Brasileira dos Investidores)​, Aurélio Valporto, disse já estudar medidas cabíveis junto à CVM e ao Ministério Público para apurar a responsabilidade dos auditores, e controladores (atuais e anteriores) no prejuízo que investidores terão.

“A primeira coisa que me chamou a atenção foi a absoluta incompetência dos auditores. Este fato lesa enormemente o patrimônio dos investidores e mina a credibilidade do mercado de capitais nacional”, afirma Valporto.

Responsabilização de auditores

Também ouvidos pelo Monitor do Mercado, advogados especialistas na área de mercado de capitais apontam que a Americanas deve ter um longo e difícil caminho de disputas com seus investidores.

Pedro Almeida, especialista em Contencioso Empresarial e Arbitragem no GVM Advogados, afirma que a responsabilização dos diretores e conselheiros é bem provável neste caso, mas dificilmente será suficiente para cobrir os prejuízos sofridos pelos investidores.

Como a legislação brasileira, ao contrário da estadunidense, não prevê a responsabilidade da própria companhia por danos causados pela sua administração, uma alternativa é pleitear a responsabilização dos auditores independentes, por se tratar de uma questão contábil. “No exterior, existem alguns precedentes que permitem cogitar essa possibilidade”, diz Almeida.

De acordo com Isac Costa, sócio do Warde Advogados, professor do Insper e Ibmec, o episódio lembra inclusive o caso do IRB Brasil Resseguradora, empresa que, após encontrar diversas fraudes, luta para tentar reconquistar a confiança dos investidores.

“As normas contábeis autorizam certa margem de discricionariedade na adoção de métodos e critérios contábeis, de um lado, mas exigem que as informações fornecidas reflitam a realidade econômica das companhias, sob pena de perderem a sua utilidade aos seus usuários, os investidores que nela baseiam suas decisões”, ensina.

Fonte: Monitor do Mercado


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