Ao combater crise, Brasil não estimula uso de energias limpas, diz estudo

Ao combater crise, Brasil não estimula uso de energias limpas, diz estudo

Documento elaborado com apoio de 14 organizações avalia a exigência de contrapartidas ambientais em pacotes de recuperação das economia

Pedro Capetti

15/07/2020 – 05:30

As medidas de suporte ao sistema energético no Brasil durante a pandemia de Covid-19 não possuem como contrapartida a sustentabilidade do meio ambiente e o  fomento por uma matriz energética mais limpa. A conclusão faz parte do estudo “Energy Policy Tracker”, lançado nesta quarta-feira pelo centro de pesquisa canadense International Institute for Sustainable Development (IISD), com apoio de 14 organizações de todo o mundo, entre elas o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

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O painel vai monitorar como os países estão apoiando o setor energético diante  dos efeitos da crise gerada pela Covid-19 nos países do G20, conhecido como grupo dos países ricos do mundo.  No Brasil, 27 políticas energéticas foram identificadas:  dez voltadas para combustíveis fósseis, sete para fontes limpas e outras dez  envolvendo demais tipos de políticas, como a tarifa social de energia.

O objetivo do painel é verificar se os recursos financeiros aplicados pelos governos em todo mundo estão ou não mais aderentes às diretrizes de sustentabilidade, a partir do suporte em energias renováveis e criação de contrapartidas. A cobrança por uma agenda verde tem sido cada vez mais demandada por empresários nacionais e internacionais.

Socorro de R$ 135 bi

Os primeiros resultados mostram que, entre o começo da pandemia no início de 2020 até 1º de julho, os países do G20 comprometeram US$ 135 bilhões em combustíveis fósseis, contra US $68 bilhões, ou metade dos investimentos, em energia limpa,  na criação de estímulos e pacotes de recuperação na economia.

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No Brasil, o cenário se repete. Apesar de ter uma matriz energética diversa e mais limpa, na comparação com outros países, as medidas para socorrer o setor energético, principalmente as energias “sujas”, não vieram com contrapartida, afirma o estudo.

–  O Brasil até agora não mostrou nenhuma política com contrapartida ambiental, apenas políticas para apoiar o setor. O apoio ao setor aéreo, por exemplo, foi feito de maneira mais branda  –  ressalta Livi Gerbase, assessora política do Inesc, um dos institutos por trás do estudo.

Livi cita como exemplo a França. A companhia aérea Air France vem recebendo ajuda do governo, mas os empréstimos acontecerão porque a empresa se comprometeu a reduzir suas emissões de gás carbônico (CO2).

Para ela, a adoção dessas medidas no setor energético poderia fazer o país avançar na pauta de sustentabilidade e na retomada do crescimento, num momento em que a cobrança por ações efetivas foi intensificada.

–  Não queremos que o setor de combustível fóssil seja descartada nesse momento de crise, mas queremos que as coisas sejam retomadas de modo mais verde e sustentável – defende.

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Apesar do destaque negativo, o estudo mostra que o país está apoiando a matriz energética mais limpa. Entre as medidas está a criação de novos mecanismos para emissão de debêntures verdes (ou green bonds), títulos de dívida para captação de recursos para investimentos em projetos sustentáveis, e financiamento do BNDES para implementar parques eólicos.

Para Livi, o país deveria aproveitar este momento para discutir uma recuperação mais sustentável, liderando o movimento mundial. No entanto, há pouco interesse para isso.

– Enquanto a União Europeia vem defendendo uma recuperação econômica verde, o Brasil, um dos países mais afetados pelo vírus Sars-Cov-2, demonstra pouco interesse em priorizar a agenda ambiental nos planos de recuperação econômica, estendendo apoio ao setor de combustíveis fósseis – conclui.

https://oglobo.globo.com/economia/ao-combater-crise-brasil-nao-estimula-uso-de-energias-limpas-diz-estudo-24532992

 


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