A felicidade como vetor de produtividade e alta performance

A felicidade como vetor de produtividade e alta performance

Por Júlio César Soares, sócio da Advocacia Dias de Souza, Especialista em Direito Tributário e Aduaneiro, Mestrando em Direito Constitucional e MBA em Vendas, Negociação e Resultados de Alta Performance.

Durante décadas, prevaleceu nas organizações a crença de que o sucesso seria o caminho natural para a felicidade. A lógica parecia simples: trabalhar duro, alcançar resultados, obter reconhecimento e, finalmente, ser feliz. No entanto, quatro décadas de evidências científicas demonstram que essa relação é, na verdade, inversa: é a felicidade que gera sucesso e não o contrário.

A mudança de paradigma é amplamente explorada por Tal Ben-Shahar, professor de Harvard e referência mundial nos estudos da ciência da felicidade. Em uma das aulas do MBA em Vendas, Negociação e Resultados de Alta Performance da PUCRS, ouvi dele uma afirmação que sintetiza esse novo entendimento:“felicidade é um bom investimento”. Ben-Shahar fala a partir da experiência e de dados empíricos e demonstra que a felicidade é um ativo capaz de gerar retorno mensurável em criatividade, engajamento, produtividade e saúde organizacional. Segundo ele, aumentos marginais nos níveis de bem-estar “3%, 4% ou 5%” já são suficientes para provocar ganhos significativos em performance, inovação e qualidade de vida no trabalho.

Estudos recentes reforçam essa correlação. Em Well-Being and Career Success, Lisa Walsh, S. Gokce Boz e Sonja Lyubomirsky, pesquisadoras da Universidade da Califórnia, revisaram mais de quarenta anos de pesquisas sobre a relação entre bem-estar e desempenho profissional. O resultado é categórico: pessoas mais felizes têm maior sucesso em suas carreiras. A análise, que reúne estudos transversais, longitudinais e experimentais, demonstra que profissionais mais felizes percebem maior significado em seu trabalho, recebem melhores avaliações de líderes, apresentam maior produtividade e são mais criativos e cooperativos.

O estudo revisita ainda uma pesquisa clássica de Martin Seligman e Peter Schulman (1986) com mais de mil vendedores da Metropolitan Life Insurance Company (MetLife). O dado é emblemático: vendedores com estilo explicativo otimista venderam 37% mais que os colegas pessimistas e, além disso, permaneceram mais tempo na empresa. Os números evidenciam não apenas a vantagem do otimismo, mas o poder comportamental da felicidade como vetor de desempenho.

Outras pesquisas, como o estudo de Bellet et al. (2020) na British Telecom, confirmam a atualidade desses achados: um aumento de apenas “uma unidade” no índice de felicidade dos trabalhadores gerou um incremento médio de 24,5% nas vendas semanais. Esse efeito não se limita ao setor comercial — aparece também em indicadores de produtividade, inovação, cooperação e lealdade organizacional.

A conclusão é robusta: a felicidade antecede e causa o sucesso profissional. Esse fenômeno, conhecido como happy–productive worker hypothesis, tem sido confirmado por meta-análises que mostram o impacto direto do bem-estar em resultados objetivos das vendas e lucros aos índices de retenção de talentos e clima organizacional.

Do ponto de vista teórico, a explicação repousa na dinâmica entre emoções positivas e cognição. Estados de humor positivos ampliam o repertório de pensamento e ação, favorecendo criatividade, antifragilidade e flexibilidade mental fenômeno descrito por Barbara Fredrickson como broaden-and-build theory. Profissionais felizes tendem a pensar de maneira mais aberta, a se recuperar mais rapidamente de adversidades e a construir redes de relacionamento mais sólidas, o que gera novas oportunidades de crescimento.

Nas organizações, esse efeito se traduz em ganhos de produtividade, inovação e cultura corporativa. Empresas que valorizam o bem-estar psicológico e implementam programas de desenvolvimento humano, práticas de mindfulness e incentivos a comportamentos positivos como gratidão e altruísmo registram, segundo Walsh, Boz e Lyubomirsky, maior engajamento, menor burnout e desempenho sustentado ao longo do tempo.

Portanto, quando Ben-Shahar afirma que “a felicidade é um bom investimento”, ele não utiliza uma metáfora inspiradora, mas uma proposição científica: cada pequeno ponto de aumento no bem-estar reverbera em múltiplos indicadores de performance. Doar, reconhecer, celebrar e cultivar propósito não são gestos de sensibilidade empresarial, mas decisões racionais e altamente rentáveis.

Em síntese, a felicidade corporativa não é uma utopia romântica, mas um diferencial competitivo mensurável. Ignorar o bem-estar dos profissionais é comprometer o desempenho e a sustentabilidade da organização. O bom gestor não é aquele que apenas maximiza resultados financeiros, mas aquele que compreende que o ativo mais valioso da empresa é o estado emocional de quem nela trabalha.

A felicidade, quando genuinamente cultivada, não é o prêmio do sucesso é o seu ponto de partida.

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