Sistema agroflorestal: sucesso do cacau de Zé Inocêncio

Sistema agroflorestal: sucesso do cacau de Zé Inocêncio não é obra do cramulhão

Embora nunca desminta as histórias a seu respeito, o personagem sempre enfatiza que seu sucesso é fruto do manejo sustentável de suas roças

Por Ianara Cardoso de Lima*

25/03/2024 07h00  Atualizado há um dia

Fenômenos de audiência e parte relevante da cultura brasileira, as novelas são capazes de moldar comportamentos e a compreensão que se faz de uma época. Não é diferente agora com o remake de Renascer, da TV Globo.

O protagonista Zé Inocêncio gera admiração de seus aliados e desconfiança de seus inimigos por conseguir se livrar de uma praga em suas plantações de cacau, aumentar a produtividade e a qualidade de seu produto enquanto seus rivais amargam prejuízos.

Na trama, o sucesso de Zé Inocêncio é atribuído de forma lendária ao “cramulhão”, um diabinho que o personagem criaria em uma garrafa para ajudar as árvores de cacau florescerem. Embora nunca desminta as histórias a seu respeito, o personagem sempre enfatiza que seu sucesso é fruto do manejo sustentável de suas roças.

O sistema de cultivo sem desmatamento e agrotóxicos seria o verdadeiro responsável pelo equilíbrio natural que mantém as pragas distantes e a qualidade da matéria-prima.

Folclore à parte, é nas técnicas de cultivo que a ficção se encontra com a realidade. Trata-se do SAF (sistema agroflorestal), uma forma de uso e ocupação do solo por meio da qual árvores são plantadas ou manejadas em conjunto com culturas de outras espécies.

Ou seja, um sistema em que é possível, simultaneamente, a melhora da qualidade ambiental, a produção de alimentos e exploração extrativista. No folhetim, por exemplo, os pés de cacau dividem a terra com bananeiras, açaizeiros e espécies nativas da Mata Atlântica.

Os benefícios são comprovados. De acordo com a Embrapa, “os recursos e o retorno da produção são gerados permanentemente e em diversos estratos. SAFs otimizam o uso da terra, conciliando a preservação ambiental com a produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a pressão pelo uso da terra para a produção agrícola”.

Não é coincidência que o SAF esteja presente em um dos grandes sucessos da TV brasileira da atualidade. As discussões em torno da necessidade de preservação e restauração das áreas florestais permeia o debate público sobre as mudanças climáticas.

A utilização do SAF está prevista no Código Florestal para recuperação de áreas degradadas. O sistema também tem sido incentivado tanto em âmbito federal (no Plano de Transição Ecológica) quanto em âmbito estadual (por exemplo, o PlanBio, do estado do Pará).

Isso se dá em razão das vantagens que o sistema oferece. Do ponto de vista ambiental, as árvores, além de fazerem captura de carbono, auxiliam na restauração ambiental, promovendo a melhora do solo, da água e da qualidade do ar.

Já do ponto de vista econômico, há a possibilidade de lucro com a recomposição da floresta no curto, médio e longo prazo, visto que podem comercializar primeiro as espécies agrícolas de crescimento rápido, posteriormente espécies frutíferas e, por fim, espécies madeireiras, além dos produtos do extrativismo.

Em áreas rurais particulares, o SAF representa uma oportunidade para que os produtores rurais regularizem suas áreas de reserva legal com ganhos econômicos — tanto pela comercialização dos produtos agroflorestais, quanto pela possibilidade de pagamento por serviços ambientais, inclusive, com a possibilidade de emissão de CPR (Cédula de Produto Rural) Verde.

Já nas áreas públicas, é uma forma recuperação de áreas degradadas, bem como de controle e combate ao desmatamento em que as áreas são exploradas economicamente por particulares por meio de concessões florestais.

Ao abordar temas como preservação ambiental e manejo consciente dos recursos naturais, Renascer desempenha um papel crucial na conscientização e na disseminação de práticas sustentáveis. O sucesso da trama não apenas cativa o público, mas também lança luz sobre a relevância de métodos agrícolas que promovam o equilíbrio entre a produção e a conservação ambiental.

*Ianara Cardoso de Lima é sócia da área cível no escritório Diamantino Advogados Associados

Obs: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de sua autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural

 

Fonte: Globo Rural


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